No
ultimo dia 10 de setembro, a empresa Apple apresentou seus mais novos produtos,
o iPhone 5S e 5C. O lançamento foi acompanhado em clima de frisson em todo o
planeta. A “novidade” do lançamento de mais um smartphone, torna oportuna a
discussão de dois pontos característicos da modernidade, a obsolescência
planejada e a “maquinização” do ser humano.
Obsolescência
planejada é quando as empresas planejam quando um produto vai falhar ou se
tornar velho, programando seu fim antes mesmo da ação da natureza e do tempo de
uso. Vários aspectos cercam essa ‘tecnologia’, mas com o objetivo comum de
atender ao mercado de produção capitalista. Assim, dar vida longa ao ciclo de
acumulação do capital produção-consumo-mais produção-mais consumo. Isso vale
para todos os tipos de bens, porém com maior destaque aos celulares, notebooks
e outros eletrônicos.
A
publicidade é a principal ferramenta nessa dinâmica, alienando os consumidores
com a sensação de que precisam consumir o tempo todo. Cada lançamento (são
muitos), torna-se melhor que o atual modelo numa velocidade frenética. Levando
os ávidos compradores a disputarem o status de serem os primeiros em enormes
filas que se formam nas catedrais do consumo – os shopping centers. Cada lançamento induz o
consumidor a associar o novo como melhor e o velho como pior.
Seguindo
a lógica do capital, quanto mais efêmera for a vida útil desses aparelhos,
maior será o descarte, gerando, como conseqüência, um gravíssimo problema
ambiental. Seja pela destruição assustadora dos recursos naturais, seja pela
excessiva produção de lixo tecnológico que ocorre na etapa de consumo e
dispensa dos aparelhos “velhos”. As empresas disfarçam esse desastre, através do
discurso da tecnologia verde, programas de reciclagem ou o já manjado
‘desenvolvimento sustentável’, porém isso não resolve nem ameniza este paiol de
problemas.
É
fato que a tecnologia avança à passos largos, entretanto esse modelo de
crescimento, de progresso e de felicidade ancorado na sociedade de consumo tem
sido prejudicial num âmbito vital que atinge o ser humano em sua essência, as
relações sociais. Se o humanismo entre as pessoas avançasse na mesma proporção com
que avança a tecnologia, viveríamos um mundo muito melhor. A maior das ironias
é quando um aparelho criado justamente para estimular a comunicação e interação
entre as pessoas esteja promovendo o efeito contrário. Cada pessoa com seu
aparelho cria um universo paralelo, tornando-se algo tão intimo como a escova
de dentes.
Esse
fenômeno já é notado em vários ambientes como na mesa de bar, no banco da
praça, nas escolas, no ambiente de trabalho, nos restaurantes, na roda de
amigos, dentre outros. Difícil (até mesmo raro) é ver alguém não hipnotizado
pela tela do smartphone. As relações e os hábitos entre as pessoas mudaram, fazendo
com que a comunicação mais elementar, o diálogo, esteja sendo digitalizado.
Falar com alguém na sala (ou quarto) ao lado, é preferível usar o Whatsapp
(aplicativo de conversa) do que levantar, ir até lá e falar cara a cara. Outro
dia uma amiga falou uma frase, que pra mim representa como um slogan desse
tempo: “os smartphones aproximam as pessoas distantes e distanciam as pessoas
próximas”. A tecnologia facilita muitas coisas e isso é indiscutível, mas que
as relações sociais estão mais frias, também é indubitável.
É
preciso um freio nesse movimento moderno e tecnológico que ilusoriamente gera
uma sensação de conforto e praticidade, mas na realidade gera uma sensação de despencar
ladeira abaixo das relações humanas. Não se trata de voltar ao tempo das
cavernas, mas de repensar o momento que estamos vivendo. Primeiro, refletir
sobre a falsa necessidade de trocar de aparelho a cada lançamento. A cada
lançamento sugere apenas um “mais do mesmo” alimentando um “museu de grandes
novidades”. Segundo, precisamos resgatar o humanismo no ser humano que vem
sendo “maquinizado” sem dó por um sistema que em sua essência já é selvagem.
Se
cada pessoa mudar a sua postura de encarar as questões do consumo e das
relações, consequentemente o ambiente também muda. Hoje, a ordem é “ter vale
mais que ser”, precisamos urgentemente inverter isso e perceber que o
verdadeiro aspecto de nossas vida é “ser vale mais que ter”.
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