A pseudo-laicização no Brasil


Por Estado Laico, entende-se aquele que não possui uma religião oficial, mantendo-se neutro e imparcial no que se refere aos temas religiosos. O Brasil é um país laico, porém a esfera religiosa exerce enorme influência em questões práticas que nada têm a ver com credos. Neste caso, a laicidade no Brasil existe apenas no papel.
Em nosso país, a maioria da população é cristã. Segundo dados do Censo IBGE 2010, entre evangélicos e católicos, mais de 86% da população se considera seguidora de Jesus Cristo. Assim, é inegável a influência da religião, todos os dias, seja nos meios de comunicação, na política e na economia, dentre outras áreas.
 Algumas igrejas já possuem seu próprio canal de televisão, outras compram grandes fatias da programação das emissoras de rádio e/ou TV para vender milagres e assim, somar mais algumas centenas de ovelhas para o seu rebanho, auferindo enormes lucros advindos da venda de itens “ungidos” (sagrados) e da contribuição voluntária da massa de fiéis.
No cenário político, seja nas Câmaras Municipais, nas Assembléias Legislativas ou na Câmara Federal existe uma “bancada evangélica” para lutar pelos direitos do exército de Cristo, como se houvesse diferença entre cidadão sacro ou profano. Ora, se são representantes eleitos pelo povo, não podem fazer diferenciação por credo, gênero ou orientação sexual, por exemplo. Nesse surreal cenário, existe até parlamentar que se “renova” quase diariamente ao discutir polêmicas para não sair de pauta, seja na primeira página dos jornais ou dos portais de notícias da Internet. O deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) é um exemplo disso. Ele vocifera discursos polêmicos com apologia à homofobia, racismo e misoginia (ódio ou aversão às mulheres), e, por ironia, ainda lidera a Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

A laicidade do Estado brasileiro é uma farsa tão grande que desde a década de 80 se usa a expressão “Deus seja louvado” impressa em todas as cédulas da moeda nacional. Em 2012, o Ministério Público Federal de São Paulo notificou o Banco Central para que retirasse a frase das cédulas alegando a mesma feria a neutralidade religiosa do Brasil. Até hoje o assunto se arrasta e nada se resolveu.

Se a liberdade religiosa, assim como a opção de não praticar religião, é assegurada pelo Estado, é fundamental que haja neutralidade dos representantes das religiões na decisão de assuntos exclusivamente de interesse público. Para que haja liberdade de fato se necessita uma profunda reforma que resgate a dignidade perdida há tempos pelos poderes executivo, legislativo e até judiciário onde, não raro, as salas são decoradas com crucifixos. O necessário mesmo é algo óbvio, que as “sagradas escrituras” até citam, mas parece ainda longe de ser efetivo, seja na comunicação, na política ou na economia: o bom senso. 

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