Hospital de Base
Madrugada do dia 04 para o dia 05 de fevereiro de 2008
4ª noite da carnaval
Tenho dois ‘sobrinhos-filhos’ (sim, pois são filhos do meu irmão, mas cuido e os trato como filhos): José Bruno Chulé e Guga Cara de Pulga Micróbio – vulgo ‘Seqüela-boy’. Chulé é gordinho e cheio de saúde, come feito uma draga. Micróbio é magrinho e fica doente com mais freqüência, daí o apelido ‘Sequela-boy’.
No domingo de carnaval, Micróbio sentiu-se mal, com febre, vômito, falta de apetite, sendo então internado no Hospital de Base, onde depois de alguns exames confirmou-se inflamação na apêndice, sendo cirurgiado na mesmo noite.
Por motivo de força maior me candidatei (eu era o único candidato) a única vaga do quadro de revezamento para pernoitar com ele no Hospital.
Fui. E fui munido: muita leitura, sudoku e muita música. E ainda tivemos até a regalia de uma TV que meu irmão nos trouxe numa tentativa de deixar a noite mais curta.
Como não é de se esperar muito da saúde pública, minhas acomodações no quarto se limitaram a uma cadeira, e no máximo apoiar a cabeça na beirada do leito onde ficou meu sobrinho.
Inicio da noite: beleza. Um pouco de leitura, conversa com meu sobrinho-filho. Leio pra ele um livrinho de piadas totalmente sem graça, pois nem ele ria, imagina eu. Além de assistir na TV o desfile das Escolas de Samba – em 90% dos canais só carnaval. Quando batia a impaciência, ia pra uma varanda-corredor ao lado que tem como vista principal a rua de acesso ao Mercado do Bosque e a cada crise de impaciência ia pra tal varanda-corredor ver o vai e vem constante de foliões laricados em busca de um up-grade na energia que pelas tantas da madrugada já começava a minguar.
Passar uma noite num hospital, e sendo ainda por cima uma noite de carnaval, ainda me faltava essa pro meu ‘curriculum vitae’. Obviamente, não é preciso passar por essa pra saber que não é nada fácil, mas o sentir na pele é bem diferente.
O tempo passa, mas não voa, arrastava-se acorrentado por um peso de 100 toneladas. Minha missão é deixar meu pequeno “Guga Cara de Pulga” no melhor bem-estar possível se é que posso dizer assim. Passar mais de 24 horas deitado num leito tomando soro tendo uma dieta que se resumia a água e suco.
Quem melhor me distraia em todos os momentos é a música. Meu top-list pra uma noite de hospital ficou assim: Lobão - MTV Acústico; Antonio Nóbrega – Lunário Perpétuo; Smashing Pumpkins – Zeitgeist; Antonio Vivaldi – Quatro Estações; Canções Budistas; Nina Simone; música indiana; The Raconteurs – Broken Boy Soldier; dentre outras.
O tempo passa, porém quanto mais perto da madrugada, mais aumenta a impressão de ser mais lento. É um verdadeiro teste de paciência contra o tédio e um teste de resistência contra o sono, pois dormir numa cadeira, quando no máximo escorar ano leito é uma proeza pra poucos. Lógico que dormi, porém do jeito que as circunstâncias permitem. Mas tudo bem, tudo pelo sobrinho.
Tenho certeza que só escrevi esse texto devido ao tédio, pois nesse momento a bateria do Mp3 player descarregou, eu não quero ver TV, não quero ler, não quero ver o movimento da rua.
Achei que eu ia ficar com muita raiva, mas não fiquei. Achei que ia ter angustia com tanto tédio, mas não me angustiei. É uma experiência e tanto, me fez perceber o que não percebia, valorizar mais a vida. Perceber o quão fútil é o carnaval quando uma pessoinha que se ama está doente carecendo de ajuda. Me senti útil. Perceber que num outro momento eu poderia estar no lugar daquele folião indo pro mercado do Bosque enquanto alguém me observaria da varando do hospital com algum parente doente.
Agora são 5:20h da manhã. Dia clareando e o vai e vem dos foliões no Mercado do Bosque vai minguando, mas não pára. Estou sentado ao lado do leito 125.
De quebra, ganho o sempre espetáculo das cores do amanhecer.
Comentários
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