Quando vier a Primavera - Alberto Caeiro

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

(7-11-1915)

Comentários

dissonante disse…
Olá,
Acabei de conhecer seu blog, porque procuro sempre ler os comentários do dissonante, mas as vezes falta tempo de respondé-los.
Mas gostei desse espaço aqui, visitarei mais vezes.
Quanto ao filme, o mais bacana é exatamente o que vc descreveu "Cada figura com sua identidade, seu tipo, sua individualidade, seu universo com imensas diferenças, mas que ao mesmo tempo percebem q se amam pq quer queira, quer não continuam família".
Se a gente não se reconhece lá, pelo menos começa a pensar sobre as diferenças.
Abraço!
GiselleXL disse…
é, vamos ter e buscar as nossas preferencias enquanto a gente pode..

feliz aniversário atrasado!!
deixei um comentário no post lááá embaixo!

bjinhos
Kaline Rossi disse…
Olá, gostei desse, assim como gostei dos outros nesse blog escritos.
Meio poeta-maldito, meio álvares de azevedo ou lord byron respeitadas as devidas proporções.
Muito bom e minha visita é garantida aqui desde já.
Um beijo.